Cartas - Lettres

Cartas – Lettres

Cartas – Lettres, bilíngue português – francês, contos de Ignácio de Loyola Brandao, poemas de Mariana Ianelli, desenhos de Alfredo Aquino, ed. Iluminuras, FUMPROARTE Porto Alegre, 2004, versões para o francês Jean-Yves Mérian e Flávia Nascimento.

Uma coletânea de cartas de Ignácio de Loyola Brandão, cartas inventadas, recolhidas ou imaginadas ou sugeridas pelos desenhos de Alfredo Aquino, sem relação entre si, mergulham o leitor num mundo desestruturado, que perdeu seus pontos de referencia. O leitor é voyeur e cúmplice. As cartas são o veículo ilusório de uma comunicação impossível entre seres que arrastam uma existência desprovida de sentido, sem finalidade, num mundo absurdo. Pouco importa quem está atrás dessas cartas. A soma das frustrações e das experiências de cada um dos autores, como através de um processo impressionista traça da humanidade um quadro particularmente sombrio. Ignácio de Loyola Brandão dirige um olhar ao mesmo tempo desiludido e irônico sobre uma sociedade desprovida de pontos de referencia, na qual os valores mais sagrados, o amor, a fidelidade, a confiança, a esperança, forma abolidos. (…) Tênue Diálogo É a esse ofício, escrever cartas, que Alfredo Aquino se devota. Suas mensagens, porém, dão-se visualmente, por meio de pinturas e de desenhos. O sentido da carta, em sua poética, constitui uma tentativa de restabelecer o elo entre a arte e o espectador que, para o artista, perdeu-se, principalmente ao longo das últimas décadas, marcadas pelo que denuncia como hermetismo da arte contemporânea. Em seu conjunto, as cartas procurariam então reatar esse saudável e necessário diálogo. Nos trabalhos mais atuais de Aquino, tanto no suporte do papel quanto no da tela, temos, de forma bastante reconhecível, duas naturezas de elementos que se entrecruzam: as imagens figurativas e o que seriam textos cifrados. As primeiras dizem respeito a uma longínqua e perseverante figura feminina, que se manifesta por meio de torsos, rostos, corpos, olhares e lábios consumados entre representações de linhas de um texto. Essa mulher, personagem que acompanha, atormenta e estranhamente suaviza o fazer de Aquino, parece emergir do passado e da memória com a força do que se sabe certeiro no futuro. Sobre ela, o texto que não foi possível dizer e que o artista restitui por meio da arte, por meio da pintura e dos desenhos, linguagens que ele, técnica e poeticamente, domina

coletânea poemas 2019

New Brazilian Poems – A Bilingual Anthology after Elizabeth Bishop – 60 poetas brasileiros

New Brazilian Poems – A Bilingual Anthology after Elizabeth Bishop – 60 poetas brasileiros – organização e tradução de Abhay Kumar, Ibis Libris Editora, Rio de Janeiro, 2019.

Organizado e vertido por Abhay K., diplomata e autor de oito livros de poesia, incluindo “O Senhor dos Oito Olhos de Katmandu” e “A Profecia de Brasília”. Depois de passar quase três anos no Brasil trabalhando na Embaixada da Índia, Abhay K. dedicou-se a coletar e verter para o inglês poemas de 60 autores brasileiros contemporâneos, oferecendo uma visão atual da poesia brasileira. Desde 1972, da antologia bilíngue feita por Elizabeth Bishop e Emmanuel Brasil, não era feito trabalho semelhante. Entre os poetas, estão Astrid Cabral, Affonso Romano de Sant’Anna, Gilberto Mendonça Teles, Adélia Prado e Olga Savary. Prefácio de Darlene J. Sadlier.

O livro do verso vivo_antologia

O livro do verso vivo – antologia lusófona de ecopoesia

O livro do verso vivo – antologia lusófona de ecopoesia, organização Mauricio Vieira e Thássio Ferreira, ed. Outra Margem, Rio de Janeiro, 2023.

O livro do verso vivo, primeira antologia de ecopoesia em língua portuguesa, foi organizada por Mauricio Vieira (foto) e Thássio Ferreira e está sendo publicada pela editora Outra Margem. Conta com a colaboração de 46 poetas de Brasil, Portugal, Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe, traz nomes conhecidos como Adriana Lisboa, Maria Esther Maciel, Mariana Ianelli, Nicolas Behr, Salgado Maranhão, e também outras e outros que despontam na Lusofonia. As ilustrações da artista visual Tikmu’un (Maxakali) Jé Hãmãgãy refletem o espírito da publicação.

A ecopoesia é uma vertente que desloca o antropocentrismo para uma aproximação com o mundo natural, propondo uma reflexão sobre a relação entre humanos e demais seres vivos. A temática do encontro e da alteridade é favorecida pela diversidade geográfica e humana dos poetas, que contribuíram com textos em múltiplas formas e estilos, inclusive, entrelaçando outros idiomas – de origem indígena e africana – com o português.

Ana Paula Tavares (Angola), Conceição Lima (São Tomé e Príncipe), Hirondina Joshua e Ana Mafalda Leite (Moçambique), Margarida Vale de Gato e Miguel-Manso (Portugal) são alguns dos poetas convidados para integrar a obra com a intenção de descentralizar e, ao mesmo tempo, reunir artistas da palavra que têm em comum a herança da Língua Portuguesa.

O livro do verso vivo, organizadores de Mauricio Vieira e Thássio Ferreira; ilustrações de Jé Hãmãgãy (Outra Margem, 169 págs.)

coletânea contos folhas de relva

Gerúndio a dois – escritores brasileiros contemporâneos conversando com seus pares

Gerúndio a dois – escritores brasileiros contemporâneos conversando com seus pares, organização Alexandre Staut, ed. Folhas de Relva, São Paulo, 2023.

O editor da Folhas de Relva Edições Alexandre Staut convidou escritores nacionais de diversos estilos e regiões do país para a antologia de contos Gerúndio a dois, em que cada um homenageia um par – ideia que surgiu de uma série de contos publicada na São Paulo Review, revista literária ligada a esta editora, em meados da década passada.

O resultado são textos sobre amizade, amor, coleguismo, sempre em clima de bom humor.  

Veja lista de contos:

Vagner Amaro aconselhando Machado de Assis
Ary Quintella deixando-se levar por Castro Alves em Singapura
Maria Valéria Rezende esclarecendo… Carlos Drummond de Andrade
Andrea Nunes sonhando com Augusto dos Anjos
Sergio Leo perambulando com Lima Barreto
Rogério Duarte tomando coragem com Raul Pompeia e José Lins do Rego
Marcia Camargos escapando ao cerco com Pagu
Maurícia Vieira confabulando com Cecília Meireles
Mailson Furtado seguindo um cortejo com Manuel Bandeira
Ronaldo Cagiano deambulando com Rosario Fusco, fitando a cidade entre escombros do futuro
Carlos Marcelo escutando Eduardo Frieiro
Ana Elisa Ribeiro rindo de certos pesadelos com Clarice Lispector
Paula Fábrio tentando fazer contato com Hilda Hilst
Marcelo Maluf tocando bateria com Fernando Sabino
Raimundo Neto chegando ao fim da linha com Torquato Neto
Alexandre Vidal Porto examinando Guimarães Rosa
Walther Moreira Santos flechando Lúcio Cardoso
Sérgio Tavares adotando um menino com Murilo Rubião
Isadora Sinay fazendo compras com Ana C.
Thais Lancman trocando pneu com Lygia Fagundes Telles
Alex Andrade tecendo um breve diário com Caio Fernando Abreu
Eltânia André subindo as montanhas de xisto da Bulgária ou assassinando a lógica com a caneta de
Campos de Carvalho
Andréa del Fuego consultando Ivana Arruda Leite
Keka Reis alimentando os gatos de Istambul com Índigo
Anita Deak vindo ao Ó com Vicente Franz Cecim
Santiago Nazarian consultando Dráuzio Varella
Mariana Ianelli olhando a noite com Anna Maria Martins
Alexandre Staut acendendo uma fogueira com Davi Kopenawa

coletânea contos

Facas – contos escolhidos

Facas – contos escolhidos, organização Alfredo Aquino, ed. Ardotempo, Porto Alegre, 2022.

Contos com a temática das facas. Aqui estão contos densos e originais, de imaginação rica, alguns mais poéticos, outros de viés policial, uns de profunda estrutura subjetiva e urdidura psicológica, alguns urbanos, de diferentes continentes, outros de teatro regional, de Campanha – femininos e masculinos; todos magistralmente escritos, algum humor, alguma leveza, melancolia e violência com sabor de sangue. Junto a essa coleção literária preciosa, um ensaio fotográfico em que a artista das imagens, vinda da fronteira profunda, realizou um ensaio notável com uma faca longa e muito antiga, de história bélica e sangrenta, protagonista de um conto imaginário e agora apresentada como a protagonista real, sobranceira e tangível, afiadíssima em seu gume riscado e infalível, num palco sereno e de natureza, de campos, horizonte pampeano com aramados, de pedras e de águas, assim como se imagina e se sabe a fronteira.

Capa coletânea Contar histórias com a avó ao colo

Contar histórias com a avó ao colo

Contar histórias com a avó ao colo, Org. Teresa Noronha, Escola Portuguesa de Moçambique -Centro de Ensino e Língua Portuguesa, 2021.

Autoras: Maria Celestina Fernandes, Mariana Ianelli, Natacha Magalhães, Kátia Casimiro, Angelina Neves, Lurdes Breda, Olinda Beja e Maria do Céu Lopes da Silva
ilustração: Tânia Clímaco

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“Contar histórias com a avó ao colo” é um livro infantil, cuja originalidade do título remete para ditados e expressões populares, mas também para uma certa ancestralidade e o saber passado de geração em geração.

Oferece uma imagem maternal e feminina, pois reúne contos escritos exclusivamente por mulheres de diversos países lusófonos como é o caso de Angola (Maria Celestina Fernandes), Brasil (Mariana Ianelli), Cabo Verde (Natacha Magalhães), Guiné-Bissau (Kátia Casimiro), Moçambique (Angelina Neves), Portugal (Lurdes Breda), São Tomé e Príncipe (Olinda Beja) e Timor Leste (Maria do Céu Lopes da Silva). A ilustração é da autoria da portuguesa Tânia Clímaco.

A edição é da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa e do Camões – Centro Cultural em Maputo que, pelo segundo ano consecutivo, se associam às comemorações do Dia Mundial da Língua Portuguesa, instituído pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), como o dia 5 de maio.

“Contar histórias com a avó ao colo” simboliza, por isso, a promoção e a valorização da Língua Portuguesa no espaço que integra o berço das várias culturas, tradições e linguagens que constituem a identidade desta língua para memória futura.

coletânea ensaios

No reverso do verso (ensaios)

No reverso do verso (ensaios), Org. Patricia Peterle, Helena Bressan Carminati e Agnes Ghisi. Ed. Rafael Copetti, 2022.

É num dos segmentos de Brot und wein que Hölderlin pergunta: “para quê poetas em tempos de penúria?”. A pergunta “para quê poetas?” desde então não cessou. Na verdade, o questionamento foi se deslocando ao longo das décadas, mexendo com o poético, ao mesmo tempo em que a própria crise da poesia ia sendo assinalada e registrada por críticos e poetas. Tanto se falou e se fala da crise da poesia, desse “evento” que para alguns parece integralmente anacrônico. Poderíamos tentar responder à pergunta de Hölderlin, mas todo o esforço tende ao fracasso, ao naufrágio. Nesse sentido, talvez, seja mais interessante aqui fazer com que a questão do poeta alemão, lido intensamente por Heidegger e mais recentemente por Agamben, se transforme em uma espécie de “nuvenzinha espectral” que acompanhe nossas leituras e incursões.