Prazer de miragem, 2022, Ardotempo, Porto Alegre. Texto de orelha de Ângela Vilma, apresentação de Tiago Maria.
Trecho do texto de orelha:
“Casas amáveis” as tuas, Mariana, diria nossa eterna Cecília. Dentro de ti quanta beleza, amiga querida! “Amiga querida”, é assim a maneira de nos saudarmos, nessa distância que separa a minha casa da tua – que é nada, visto o afeto a nos unir –; lá onde crias, magistralmente, com palavras e sentimento, as coisas mais preciosas. Neste teu livro, as possibilidades de miragem que nos dão tuas mãos: o mar inventado bastando “esperar o sol atingir o ponto em que atravessa a janela do banheiro e então entrar no banho” e “fechar os olhos” (Prazer de miragem); o conhecimento profundo sobre aquela que perdeu para a morte seu ser mais amado: sabes tu que ela “era quem lhe acompanhava cotidianamente, quem lhe preparava o café quente indispensável, quem lhe cuidava no refúgio da paz doméstica” (Visão); e a pergunta fatal, precursora de todos os desamparos: “Mas dentro, dentro mesmo, quem alguma vez nos viu?”(Nós que ainda sonhamos).
Telepáticas, essas páginas. Pois que nelas vislumbrei um mundo muito melhor para viver. Um mundo possível e acolhedor, onde a poesia reflexiva ecoa numa prosa profunda, bela e bem urdida, a despeito dos seres horrendos, os tais “industriosos da mentira” (Como é possível?) continuarem a nele habitar. Escuto teu conselho, amiga querida, fazendo durar minhas “reservas de miragem”, junto a essas que agora me dás, enquanto “dure esse tempo bruto”.
Grata, imensamente,
Tua
Ângela Vilma