Dupla noite, 2022, de Lezama Lima, ed. Demônio Negro, São Paulo. Seleção e tradução de Adriana Lisboa e Mariana Ianelli. Posfácio de Marcel Beltrán.
Primeira antologia poética de Lezama Lima no Brasil, DUPLA NOITE reúne quarenta poemas, entre as mais de mil páginas da poesia completa do autor, numa seleta afetiva que traz para o leitor brasileiro alguns dos elementos mais recorrentes do repertório simbólico do poeta cubano, assim como poemas da admiração e da amizade, dedicados a pessoas de seu convívio íntimo, intelectual e literário. Surgido em 2017, esse projeto de tradução buscou desde o início manter vivo e visível o “sistema poético do mundo” lezamiano, sem eliminar, no trânsito entre o espanhol e o português, a inerente complexidade dessa poesia, com suas repetições e ambiguidades. Dos versos de juventude a inéditos em livro, estão aí contemplados cinquenta anos de criação em poemas representativos da densa trajetória de Lezama Lima, coligidos dos livros Inicio y escape, Enemigo Rumor, Aventuras sigilosas, La fijeza, Dador, Fragmentos a su imán, entre outros. A antologia também conta com um posfácio do cineasta e artista cubano Marcel Beltrán, além de um texto introdutório de Adriana Lisboa e Mariana Ianelli, que assinam a seleção e tradução dos poemas deste volume.
Trecho do posfácio de Marcel Beltrán, cineasta e artista cubano:
Para Lezama, a poesia podia ser um sistema de “infinitos entrelaçamentos”. Uma concordância perfeita para a forma. Uma essência que permanece em tudo aquilo que adquire vida, um espaço indefinido entre dois pontos de luz; ou uma chama para tocar a dupla noite de “uma arte incompreensível mas razoável”, como dissera Pascal. Chega assim ao que denominaria de Sistema Poético do Mundo, funcionando como imagem filosófica (um Tao), ou como entidade criada para a absorção do que é cubano no universo: Uma mão que liga um interruptor de eletricidade em Havana inaugura uma cachoeira no Lago Ontário. Como no Atlas Mnemosyne de Warburg, o mecanismo discursivo do sistema de representação evoca uma noção de acaso poético – o que Lezama chamou de “acaso concordante” – diferente da causalidade lógica ou empírica. A associação de duas palavras formando uma imago, como uma relação sináptica de sentidos que estimula um novo sentido, sempre desafiador:
Quando cheguei à minha possível maturidade, ocorreu-me fazer algo temerário, fazer uma loucura que foi o meu sistema poético do mundo, que considero uma tentativa de tentar o impossível. Mas se em nossa época não tentamos isso, o que vale a pena tentar? O que temos que tentar é isso: o impossível.
(…)
A publicação da antologia poética Dupla noite, com seleção e tradução de Adriana Lisboa e Mariana Ianelli, como o próprio Lezama diria, é “uma festa inominável”. O mestre se estende outra vez. Aparece agora transformado em novo ato criativo; piano tocado a quatro mãos para esta bela edição bilíngue. Aqui está o seu “ruído inaudível”, onde se abre outro convite para mergulharmos na infinita possibilidade de sua conquista.
em seu 110º aniversário,
19 de dezembro de 2020,
dia festivo
Marcel Beltrán
(autor do posfácio “Tentar o impossívell“, na antologia poética DUPLA NOITE)
DUPLA NOITE
Autor: José Lezama Lima
Seleção e Tradução: Adriana Lisboa e Mariana Ianelli
Bilíngue: Português/Espanhol
Capa Dura
ISBN 978-65-995479-1-1